CONSIDERAÇÕES INTEMPESTIVAS Preciso aprender a pensar, aprender as diversas maneiras e modos de me comportar em público, aprender a ouvir, mesmo que essas informações sejam apenas retalhos do velho guarda roupas da história, preciso compreender a diferença e a diferança do que é uma coisa. O ser tornado esta coisa que pensa, saber o que nasce da experiência de ter-se-tornado o que é originariamente é um modo completamente diferente do comum, do usual, a devastação da linguagem é o papel assumido pela hermenêutica do sujeito, a desconstrução dos valores morais. Uma coisa é ter uma compreensão a partir desta ciência objetivante, é o Was (conteúdo objetivo – que coisa), a outra por se tratar de metodologia é Wie (modo, como), é uma relação não objetivante do fenômeno, que não se preocupa tanto com o conceito formal, com o sentido de conteúdo, mas sim com a relação-intençao-distorção que é o sentido de referência e atuação, o como se dá o fenômeno. Quando faço de mim mesmo estas questões, então a vida se torna um problema para mim. A vida é fabricada a todo instante, a vida não tem lugar naturalmente, ou seja, ela é feita, ela é vivida, ela é experienciada, ela é feita de instantes. Não há uma rejeição ou um niilismo passivo-reativo, mas sim, ao contrário do que pensam, a tarefa do pensamento é de aceitar as diferenças, aceitar o outro, aceitar a angustia e a dor de forma contrária da tradição, não se vitimizando, mas sim se tornando o que se é com dignidade e originalidade. Não evitando as contingências da vida, mas assumindo com dignidade o que se é. Não viver de mascaras ou de títulos, mas ser simplesmente o que se é com autenticidade e originalidade. Porque penso eu estas coisas? Será que elas já nasceram comigo (determinação biológica), ou foram construídas historicamente (determinação histórica). Será que tenho que cair nessa cilada dicotômica que a linguagem dialética assume para fundamentar a sua idéia da razão e da ciência enquanto epistemologia? Cilada esta que busca o apoio e seu fundamento na idéia, na razão e na ciência? Então devo jogar todo conhecimento e toda a cultura humana tanto de reprodução, transmissão e criação como que não servissem para nada? Será que essas idéias são minhas mesmas ou de algum modo são redescrições de vários textos da humanidade? Os professores dizem que não compreendem o jogo da linguagem, a lógica das falácias, a desqualificação, pois nunca estudaram lógica, onde estabelece o princípio de premissas falsas e verdadeiras, os diversos modos de se provar a verdade através da dialética. Os diversos usos da dialética para provarem a sua história, o seu estilo retórico, sua heurística, todas essas lógicas formais de persuasão, foram construídas ao longo da história da filosofia que é a história do próprio homem, pois a história do homem só acaba quando o ultimo homem morrer na terra. Agora para eu poder pensar o que sou, e o que faço, o que habita o meu ser em seu acontencimento-apropriativo, e em minha maneira de existência e de resistência perante as diversas falácias da academia e do poder-saber como forma e corpo de um sistema de proposições lógicas. O que passo a questionar é poder pensar se tenho alguma dignidade para poder pensar? E o que è digno de se pensar? De se questionar, por exemplo: o princípio do fundamento onto-teo-lógico e metafísico. O que é difícil para compreender é de onde se fundamenta, ou seja, qual é o fio condutor que leva a este corte epistemológico da academia, da ciência enquanto verdade e de suas proposições morais? Será que penso estas coisas originariamente ou são apenas releituras dos textos que me vem a pensar neste momento para refutar a imposição do conhecimento? O que busco fazer em primeiro lugar é de me afirmar e ao mesmo tempo me questionar se sou rebanho ou se sou um livre pensador. E nessa luta do meu espírito, do meu pensamento por mais que seja não compreendido, ainda assim, mesmo que tenha o meu corpo domesticado, docilizado, dentro desse trabalho público, não irei desistir a vontade do meu espírito, a abertura para o pensamento sem dogmas da tradição e sentido moral. O intelecto, como um meio para a conservação do individuo, desdobra suas forças mestras no disfarce; pois este é o meio pelo qual os indivíduos mais fracos, menos robustos, se conservam, aqueles aos quais está vedado travar uma luta pela existência com chifres e presas aguçadas. No homem esta arte do disfarce chega a seu ápice; aqui o engano, o lisonjear, mentir e ludibriar, o falar-por-tras-das-costas, o representar, o viver em glória de empréstimo, o mascarar-se, a convenção dissimulante, o jogo teatral diante dos outros e diante de si mesmo, em suma o constante bater de asas em torno dessa única chama que é a vaidade é a tal ponto a regra e a lei que quase nada mais é inconcebível do que como pode aparecer entre os homens um honesto e puro impulso a verdade (Nietzsche, Sobre a verdade e mentira no sentido extra-moral, 1973). Com isto não nego a história, só não penso que sou determinado exclusivamente pela história, não nego a razão, mas penso a sensibilidade, não nego a dialética, o materialismo, mas também não consigo acreditar nas grandes metanarrativas tais como, o racionalismo, o idealismo, o historicismo, o positivismo, como sendo as únicas metanarrativas possíveis no mundo. O difícil é compreender como toda essa história se da na realidade na facticidade da vida comum do ser, se perceber no mundo de maneira existenciaria, não negando o mundo como num niilismo passivo, e reativo. Mas sim compreende-lo e interpretá-lo de modo contrário a tradição da metafísica. Só deste modo penso eu que podemos contribuir para a história do conhecimento, para história das descrições e para a história das interpretações. Não podemos deixar de perceber as peculiaridades da vida, do que é a política, dos preceitos morais e éticos e o que estes tem a ver com o meu simples cotidiano, ou seja, com o que eu sou. E o que eu sou ao me determinar historicamente? Sou uma peça da engrenagem de uma sociedade de classes? Sou o vazio existencial de meu ser? Ou busco algo para me apoiar? Algo em que eu possa acreditar como verdade? Mas e se eu não souber o que é a verdade? De qual verdade estamos falando? A verdade ontológica e humanista? A verdade metafísica positiva? A verdade materialista histórica? A verdade da ciência moderna? A união da lógica, da matemática, e da física como um critério de verdade? O erro é evidente e profundo, enraizado biologicamente e historicamente na história do que é o ser. A metafísica pensa o ser a partir do ente, ou seja, através da coisa, do domínio, da manipulação e transformação. A questão enquanto dignidade de ser pensada é porque existe simplesmente o ente e não antes o nada? O que é o ser do ente? Se essa linguagem não faz parte de meu vocabulário como eu poderia ter me apropriado dela? Se isso tudo é uma fabula, com quem devo dialogar? Será que sou eu mesmo que estou no lugar errado ou não há abertura para o outro, o diferente, o não igual às massas? Se o meu lugar não é ai, onde então habita o meu ser? Na filosofia? No pensamento?ou em uma mão de obra braçal, desprovida da capacidade de pensar perante esta academia?Onde se esconde a verdadeira vaidade? Em qual estado de ânimo me apresento? Do poder da força do conhecimento hierarquizado? Em qual mascara me escondo? È esse o ponto que devemos descrever o que são essas teorias e para que servem? Qual é seu fio condutor epistemológico? A quem de fato privilegiam? Quais são os seus pressupostos filosóficos? Volto a questionar o fim da história e a tarefa do pensamento, ou vamos ter uma visão pragmatista do mundo? Ou uma visão apocalíptica do fim da história como o fim dos homens? Não vou questionar nada? Afinal de contas o grande projeto da modernidade, com seu método de dominar as coisas, os filósofos do sistema, o projeto humanista da metafísica podem prevalecer nas determinações de nossas vidas, ou podemos pensar não categorialmente, mas sim existenciariamente, porque ao invés de dar e transmitir conceitos, não se trabalha com indicadores formais sobre os fenômenos, sobre a facticidade da vida, sobre o ser simplesmente dado ai, e sobre o evento do ser. Serra, 18 de julho de 2011 Dimitri Barreto
''A vontade é impotente perante o que está para trás dela. Não poder destruir o tempo, nem a avidez transbordante do tempo, é a angústia mais solitária da vontade.'' Friedrich Nietzsche ESPAÇO PARA TOMAR POSICIONAMENTO E CONSTRUIR OUTROS OLHARES.MARKETING POLÍTICO, OBSERVADOR DOS FENÔMENOS SOCIAIS E PESQUISADOR DO INSTITUTO AMOSTRAS E CIENTISTA POLÍTICO. ''SONHOS SÃO AS RELIGIÕES DOS QUE DORMEM. RELIGIÕES SÃO OS SONHOS DOS QUE ESTÃO ACORDADOS....'' RUBENS ALVES .
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Marx e Nietzsche diante da modernidade capitalista Posted: 05/03/2011 by Revista Espaço Acadêmico in
Marx e Nietzsche diante da modernidade capitalista Posted: 05/03/2011 by Revista Espaço Acadêmico in colaborador(a) 4 por AUGUSTO BUONICORE* Nos marcos da onda pós-moderna que varreu o mundo durante as décadas de 1980 e 1990, houve uma tentativa revalorização do pensamento de Nietzsche e, inclusive, de aproximá-lo de Marx. Qual a razão disso? Segundo Marshall Berman, ambos estariam envolvidos na “mesma tentativa de expressar e de agarrar um mundo o qual tudo está impregnado de seu contrário”. E mais: eles estariam preocupados na construção de uma “nova espécie de homem (…) que, colocando-se em oposição ao seu hoje, teria a coragem e a imaginação de ‘criar novos valores’”. Para ele, Marx e Nietzsche, teriam sido “simultaneamente entusiastas e inimigos da vida moderna”. Neste sentido, contrapunham-se a maioria dos autores atuais, que possuem uma visão unilateral da modernidade, pois caminhariam para polarizações rígidas e anti-dialéticas na qual a modernidade “ou é vista com um entusiasmo cego, acrítico, ou é condenada (…), sempre concebida como um monólito fechado, que não poderia ser moldado ou transformado pelo homem moderno”. De fato, os dois autores alemães captaram a crise que impregnava a sociedade capitalista moderna e se colocaram contra ela; mas, indubitavelmente, olhavam esta sociedade em crise de maneira muito diferente. Marx foi um crítico feroz do capitalismo, advogando o fim da exploração do trabalho, a destruição do Estado burguês e sua substituição pelo chamado Estado-Comuna. A perspectiva marxista, portanto, era assentada num democratismo radical-popular, no qual as massas tinham um papel central e positivo na história. Nietzsche, pelo contrário, era fortemente marcado por um ódio aristocrático às classes populares e ao socialismo, inclusive nas suas formas mais amenas. A sua crítica ao capitalismo era essencialmente conservadora e reacionária. Concentrava seus ataques ao liberal-democratismo que permitiria, ainda que de maneira limitada, a participação política de setores despossuídos. Na sua obra clássica Para além do Bem e do Mal, afirmou: o movimento democrático era “uma forma de degradação da organização política”, equivalente à “degradação e apequenamento do próprio homem”. Nietzsche, também, não mostrou nenhuma simpatia por aqueles que chamava “cães anarquistas”, que vagueavam “nos becos da civilização”, nem pelos “fanáticos de irmandades que se denominam socialistas” e almejavam construir uma “sociedade livre”. Expressou, por diversas vezes, sua repugnância pela “instintiva hostilidade” dos socialistas “contra toda forma de sociedade que não a do rebanho autônomo (chegando até à própria rejeição dos conceitos ‘senhor’ e ‘servo’ – ni dieu ni maître, diz uma fórmula socialista)”. Repugnava particularmente a irritante resistência à “todo direito particular e privilégios”. Nietzsche se arremeteu furiosamente contra este “novo homem” emancipado, proposto pelos socialistas. Afirmou ele: “A degeneração geral do homem, até chegar àquilo que hoje aparece aos broncos e cabeças rasas do socialismo como seu ‘homem do futuro’, como seu ideal! – essa degeneração e apequenamento do homem em completo animal-rebanho (ou, como eles dizem, em homens da ‘sociedade livre’), esta animalização do homem em animal anão dos direitos e pretensões iguais, é possível, não há dúvida nenhuma! Quem pensou uma vez nesta possibilidade até o fim, conhece um nojo a mais do que os outros homens.” Ele era um dos que, compreendendo o perigo que o socialismo representava, compartilhava desse nojo aristocrático contra a plebe e seus porta-vozes. O “homem do futuro” de Nietzsche era de outra natureza. A sua essência seria “guerreira”. Ele estaria, a todo momento, “pronto a sacrificar à sua causa seres humanos”, pois seus “instintos viris se alegrariam com a guerra e a vitória”. E concluiu: este “homem do futuro” renegaria “a desprezível espécie de bem-estar com que sonham merceeiros, cristãos, vacas, mulheres, ingleses e outros democratas”. Nietzsche sonhava com a chegada deste “homem do futuro”, o “homem redentor”, que nos redimiria “do grande nojo” igualitário. Não foi por acaso que a irmã deste autor, Elisabeth, confundiria o super-homem nietzschiano com Adolf Hitler, o Führer do terceiro Reich. A maior crítica que dirigiu aos governantes e à sociedade alemã de seu tempo foi quanto à sua incapacidade de impedir a barbárie que viria com a vitória da democracia e o ascenso do movimento operário-socialista. Afirmou: “Ninguém hoje tem mais coragem de ter direitos particulares, de ter direito de domínio (…). Nossa política está doente dessa falta de coragem! – O aristocratismo dos sentimentos foi solapado da maneira mais subterrânea pela mentira da igualdade das almas”. Aqui está, portanto, o radicalismo anti-moderno do pensamento de Nietzsche. O nosso autor fez, então, uma interessante analogia entre os primeiros cristãos e os movimentos contestatórios contemporâneos, anarquistas e socialistas. Esta mesma operação seria feita por Karl Kautsky e Rosa de Luxemburgo, dois importantes membros da social-democracia alemã, mas com um conteúdo e objetivos completamente diferentes. Afirmou Nietzsche: “Pode-se estabelecer entre cristãos e anarquistas uma perfeita equação: sua finalidade, seu instinto, visa somente a destruição (…). O cristianismo foi o vampiro do Império Romano (…). Esta organização (o Império) era firme o bastante para suportar maus césares (…) (mas) não era firme o bastante contra a mais corrupta espécie de corrupção: os cristãos (…). Este bando covarde, feminino açucarado, que passo a passo afastou as ‘almas’ desse descomunal edifício (…). Todo espírito respeitável no império romano era epicurista: então apareceu Paulo (…) contra Roma, contra o “mundo”, o judeu, o judeu eterno par excellence (…). Ele compreendeu como, com o auxílio do pequeno e sectário movimento cristão (…) se pode ascender um ‘incêndio do mundo’; como, com o símbolo ‘Deus na cruz’, se pode somar tudo o que está por baixo, tudo o que é secretamente sedicioso, a inteira herança de agitação anarquista dentro do império, em uma potência descomunal”. O cristianismo e o socialismo eram os símbolos da decadência imperial antiga e moderna. O que os socialistas viam de positivo na ideologia e na prática igualitaristas, niveladoras, dos primeiros cristãos, Nietzsche via degenerescência e corrupção. Por isto mesmo o seu nojo se estendeu até estas antigas comunidades cristãs. Nietzsche nunca escondeu sua ideia sobre a necessidade de manutenção da divisão da sociedade em classes sociais como condição sine qua non para manutenção e desenvolvimento da moderna civilização ocidental. Afinal, como ele mesmo disse, “uma cultura superior só pode surgir onde existam duas castas distintas no seio da sociedade: a dos trabalhadores e a dos ociosos (…) ou para dizê-lo com palavras mais fortes, a casta do trabalho forçado e a do trabalho livre”. Os antigos filósofos gregos já haviam difundido esta tese, que se tornou “pedra de toque” de todo pensamento conservador posterior. Por fim, uma breve nota sobre o anti-semitismo nietzschiano. É verdade que, em alguns momentos, ele se levantou contra os exageros das posições anti-semitas de alguns de seus diletos amigos alemães. No entanto, nunca procurou esconder suas posições preconceituosas contra os judeus, que o incluem no campo dos teóricos anti-semitas. “Que a Alemanha, afirmou ele, tem judeus mais do que o bastante, que o estômago alemão, o sangue alemão tem dificuldade (e ainda por muito tempo terá dificuldade) para dar conta desse quantum de ‘judeu’ (…) tal é o (…) instinto geral, ao qual é preciso dar ouvidos e pelo qual é preciso agir”. Isto o levaria a conclamar aos alemães: “’Não deixem entrar novos judeus!’ – em especial do Oriente. ‘Aferrolhem os portões!’ – assim ordena o instinto de um povo cuja espécie ainda fraca e indeterminada, de modo que poderia facilmente (…) ser extinta por uma raça mais forte”. E conclui: “um pensador, que tem na consciência o futuro da Europa, contará, em todos os projetos que faz sobre esse futuro, com os judeus assim como com os russos, como os fatores que, de imediato, se apresentam como os mais seguros e prováveis no grande jogo e combate de forças”. Premonitoriamente Nietzsche previu os “grandes combates de forças” que se travariam mais tarde entre o império nazista dirigido por Hitler. Neste confronto de titãs, duas perspectivas de humanidade se chocaram. Uma, representada pelo nazismo, advogava a superioridade de alguns poucos escolhidos e a renascimento de um mundo de senhores e escravos. Outra, representada pelos comunistas, que apontava a conquista de uma verdadeira igualdade entre os homens como ponto de partida de uma humanidade emancipada. Marx e Nietsche não estiveram completamente ausentes nestes dias tormentosos da II Grande Guerra Mundial. Decerto, seria incorreto traçar uma linha reta, sem mediações, entre Para Além do Bem e do Mal e Auschewitz ou entre o conceito “vontade de poder” e a política de extermínio dos nazistas. Mas, sem dúvida, suas ideias faziam parte de um amplo movimento intelectual reacionário e irracionalista que se expandiu pela Europa no pós-1848, como resposta teórica e política à ascensão do movimento democrático, operário e socialista. Elas ajudariam a assentar as bases para a construção de uma forte ideologia militarista e imperialista na Europa, especialmente na Alemanha. As perspectivas de Marx e Nietzsche são completamente diferentes. Mais do que diferentes, são antagônicas e, portanto, não podem ser conciliadas. O ecletismo teórico, a tentativa de fusão entre dois pensadores tão distantes entre si, só pode ser explicado pela quadra histórica em que viveram estes intelectuais pós-modernos. Espremidos entre a radicalidade do pensamento crítico dos agitados anos 1960, que se esvaziava, e o pessimismo crônico que ganhava corpo com o início da crise das experiências socialistas (e social-democratas) e a ofensiva liberal-conservadora, no final da década de 1970. Ou seja, este ecletismo teórico era um dos reflexos superestruturais de um tempo sombrio. Condições que só começaria a se alterar nos últimos anos do século passado. Referências BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido se desmancha no ar, Ed. Companhia das Letras. LUKÁCS, Georg. Ela salto a la razón, Ed. Grijaldo MARX, K.; ENGELS, F. O Manifesto do Partido Comunista, NIETZSCHE, Os pensadores, volume I e II, Ed. Nova Cultural. * AUGUSTO CÉSAR BUONICORE é historiador; mestre em ciência política pela Unicamp; secretário-geral da Fundação Maurício Grabóis; membro do conselho editorial das revistas Princípios e Crítica Marxista e do Comitê Central do PCdoB.

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