''A vontade é impotente perante o que está para trás dela. Não poder destruir o tempo, nem a avidez transbordante do tempo, é a angústia mais solitária da vontade.'' Friedrich Nietzsche ESPAÇO PARA TOMAR POSICIONAMENTO E CONSTRUIR OUTROS OLHARES.MARKETING POLÍTICO, OBSERVADOR DOS FENÔMENOS SOCIAIS E PESQUISADOR DO INSTITUTO AMOSTRAS E CIENTISTA POLÍTICO. ''SONHOS SÃO AS RELIGIÕES DOS QUE DORMEM. RELIGIÕES SÃO OS SONHOS DOS QUE ESTÃO ACORDADOS....'' RUBENS ALVES .
domingo, 18 de setembro de 2011
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Marx e Nietzsche diante da modernidade capitalista Posted: 05/03/2011 by Revista Espaço Acadêmico in
Marx e Nietzsche diante da modernidade capitalista Posted: 05/03/2011 by Revista Espaço Acadêmico in colaborador(a) 4 por AUGUSTO BUONICORE* Nos marcos da onda pós-moderna que varreu o mundo durante as décadas de 1980 e 1990, houve uma tentativa revalorização do pensamento de Nietzsche e, inclusive, de aproximá-lo de Marx. Qual a razão disso? Segundo Marshall Berman, ambos estariam envolvidos na “mesma tentativa de expressar e de agarrar um mundo o qual tudo está impregnado de seu contrário”. E mais: eles estariam preocupados na construção de uma “nova espécie de homem (…) que, colocando-se em oposição ao seu hoje, teria a coragem e a imaginação de ‘criar novos valores’”. Para ele, Marx e Nietzsche, teriam sido “simultaneamente entusiastas e inimigos da vida moderna”. Neste sentido, contrapunham-se a maioria dos autores atuais, que possuem uma visão unilateral da modernidade, pois caminhariam para polarizações rígidas e anti-dialéticas na qual a modernidade “ou é vista com um entusiasmo cego, acrítico, ou é condenada (…), sempre concebida como um monólito fechado, que não poderia ser moldado ou transformado pelo homem moderno”. De fato, os dois autores alemães captaram a crise que impregnava a sociedade capitalista moderna e se colocaram contra ela; mas, indubitavelmente, olhavam esta sociedade em crise de maneira muito diferente. Marx foi um crítico feroz do capitalismo, advogando o fim da exploração do trabalho, a destruição do Estado burguês e sua substituição pelo chamado Estado-Comuna. A perspectiva marxista, portanto, era assentada num democratismo radical-popular, no qual as massas tinham um papel central e positivo na história. Nietzsche, pelo contrário, era fortemente marcado por um ódio aristocrático às classes populares e ao socialismo, inclusive nas suas formas mais amenas. A sua crítica ao capitalismo era essencialmente conservadora e reacionária. Concentrava seus ataques ao liberal-democratismo que permitiria, ainda que de maneira limitada, a participação política de setores despossuídos. Na sua obra clássica Para além do Bem e do Mal, afirmou: o movimento democrático era “uma forma de degradação da organização política”, equivalente à “degradação e apequenamento do próprio homem”. Nietzsche, também, não mostrou nenhuma simpatia por aqueles que chamava “cães anarquistas”, que vagueavam “nos becos da civilização”, nem pelos “fanáticos de irmandades que se denominam socialistas” e almejavam construir uma “sociedade livre”. Expressou, por diversas vezes, sua repugnância pela “instintiva hostilidade” dos socialistas “contra toda forma de sociedade que não a do rebanho autônomo (chegando até à própria rejeição dos conceitos ‘senhor’ e ‘servo’ – ni dieu ni maître, diz uma fórmula socialista)”. Repugnava particularmente a irritante resistência à “todo direito particular e privilégios”. Nietzsche se arremeteu furiosamente contra este “novo homem” emancipado, proposto pelos socialistas. Afirmou ele: “A degeneração geral do homem, até chegar àquilo que hoje aparece aos broncos e cabeças rasas do socialismo como seu ‘homem do futuro’, como seu ideal! – essa degeneração e apequenamento do homem em completo animal-rebanho (ou, como eles dizem, em homens da ‘sociedade livre’), esta animalização do homem em animal anão dos direitos e pretensões iguais, é possível, não há dúvida nenhuma! Quem pensou uma vez nesta possibilidade até o fim, conhece um nojo a mais do que os outros homens.” Ele era um dos que, compreendendo o perigo que o socialismo representava, compartilhava desse nojo aristocrático contra a plebe e seus porta-vozes. O “homem do futuro” de Nietzsche era de outra natureza. A sua essência seria “guerreira”. Ele estaria, a todo momento, “pronto a sacrificar à sua causa seres humanos”, pois seus “instintos viris se alegrariam com a guerra e a vitória”. E concluiu: este “homem do futuro” renegaria “a desprezível espécie de bem-estar com que sonham merceeiros, cristãos, vacas, mulheres, ingleses e outros democratas”. Nietzsche sonhava com a chegada deste “homem do futuro”, o “homem redentor”, que nos redimiria “do grande nojo” igualitário. Não foi por acaso que a irmã deste autor, Elisabeth, confundiria o super-homem nietzschiano com Adolf Hitler, o Führer do terceiro Reich. A maior crítica que dirigiu aos governantes e à sociedade alemã de seu tempo foi quanto à sua incapacidade de impedir a barbárie que viria com a vitória da democracia e o ascenso do movimento operário-socialista. Afirmou: “Ninguém hoje tem mais coragem de ter direitos particulares, de ter direito de domínio (…). Nossa política está doente dessa falta de coragem! – O aristocratismo dos sentimentos foi solapado da maneira mais subterrânea pela mentira da igualdade das almas”. Aqui está, portanto, o radicalismo anti-moderno do pensamento de Nietzsche. O nosso autor fez, então, uma interessante analogia entre os primeiros cristãos e os movimentos contestatórios contemporâneos, anarquistas e socialistas. Esta mesma operação seria feita por Karl Kautsky e Rosa de Luxemburgo, dois importantes membros da social-democracia alemã, mas com um conteúdo e objetivos completamente diferentes. Afirmou Nietzsche: “Pode-se estabelecer entre cristãos e anarquistas uma perfeita equação: sua finalidade, seu instinto, visa somente a destruição (…). O cristianismo foi o vampiro do Império Romano (…). Esta organização (o Império) era firme o bastante para suportar maus césares (…) (mas) não era firme o bastante contra a mais corrupta espécie de corrupção: os cristãos (…). Este bando covarde, feminino açucarado, que passo a passo afastou as ‘almas’ desse descomunal edifício (…). Todo espírito respeitável no império romano era epicurista: então apareceu Paulo (…) contra Roma, contra o “mundo”, o judeu, o judeu eterno par excellence (…). Ele compreendeu como, com o auxílio do pequeno e sectário movimento cristão (…) se pode ascender um ‘incêndio do mundo’; como, com o símbolo ‘Deus na cruz’, se pode somar tudo o que está por baixo, tudo o que é secretamente sedicioso, a inteira herança de agitação anarquista dentro do império, em uma potência descomunal”. O cristianismo e o socialismo eram os símbolos da decadência imperial antiga e moderna. O que os socialistas viam de positivo na ideologia e na prática igualitaristas, niveladoras, dos primeiros cristãos, Nietzsche via degenerescência e corrupção. Por isto mesmo o seu nojo se estendeu até estas antigas comunidades cristãs. Nietzsche nunca escondeu sua ideia sobre a necessidade de manutenção da divisão da sociedade em classes sociais como condição sine qua non para manutenção e desenvolvimento da moderna civilização ocidental. Afinal, como ele mesmo disse, “uma cultura superior só pode surgir onde existam duas castas distintas no seio da sociedade: a dos trabalhadores e a dos ociosos (…) ou para dizê-lo com palavras mais fortes, a casta do trabalho forçado e a do trabalho livre”. Os antigos filósofos gregos já haviam difundido esta tese, que se tornou “pedra de toque” de todo pensamento conservador posterior. Por fim, uma breve nota sobre o anti-semitismo nietzschiano. É verdade que, em alguns momentos, ele se levantou contra os exageros das posições anti-semitas de alguns de seus diletos amigos alemães. No entanto, nunca procurou esconder suas posições preconceituosas contra os judeus, que o incluem no campo dos teóricos anti-semitas. “Que a Alemanha, afirmou ele, tem judeus mais do que o bastante, que o estômago alemão, o sangue alemão tem dificuldade (e ainda por muito tempo terá dificuldade) para dar conta desse quantum de ‘judeu’ (…) tal é o (…) instinto geral, ao qual é preciso dar ouvidos e pelo qual é preciso agir”. Isto o levaria a conclamar aos alemães: “’Não deixem entrar novos judeus!’ – em especial do Oriente. ‘Aferrolhem os portões!’ – assim ordena o instinto de um povo cuja espécie ainda fraca e indeterminada, de modo que poderia facilmente (…) ser extinta por uma raça mais forte”. E conclui: “um pensador, que tem na consciência o futuro da Europa, contará, em todos os projetos que faz sobre esse futuro, com os judeus assim como com os russos, como os fatores que, de imediato, se apresentam como os mais seguros e prováveis no grande jogo e combate de forças”. Premonitoriamente Nietzsche previu os “grandes combates de forças” que se travariam mais tarde entre o império nazista dirigido por Hitler. Neste confronto de titãs, duas perspectivas de humanidade se chocaram. Uma, representada pelo nazismo, advogava a superioridade de alguns poucos escolhidos e a renascimento de um mundo de senhores e escravos. Outra, representada pelos comunistas, que apontava a conquista de uma verdadeira igualdade entre os homens como ponto de partida de uma humanidade emancipada. Marx e Nietsche não estiveram completamente ausentes nestes dias tormentosos da II Grande Guerra Mundial. Decerto, seria incorreto traçar uma linha reta, sem mediações, entre Para Além do Bem e do Mal e Auschewitz ou entre o conceito “vontade de poder” e a política de extermínio dos nazistas. Mas, sem dúvida, suas ideias faziam parte de um amplo movimento intelectual reacionário e irracionalista que se expandiu pela Europa no pós-1848, como resposta teórica e política à ascensão do movimento democrático, operário e socialista. Elas ajudariam a assentar as bases para a construção de uma forte ideologia militarista e imperialista na Europa, especialmente na Alemanha. As perspectivas de Marx e Nietzsche são completamente diferentes. Mais do que diferentes, são antagônicas e, portanto, não podem ser conciliadas. O ecletismo teórico, a tentativa de fusão entre dois pensadores tão distantes entre si, só pode ser explicado pela quadra histórica em que viveram estes intelectuais pós-modernos. Espremidos entre a radicalidade do pensamento crítico dos agitados anos 1960, que se esvaziava, e o pessimismo crônico que ganhava corpo com o início da crise das experiências socialistas (e social-democratas) e a ofensiva liberal-conservadora, no final da década de 1970. Ou seja, este ecletismo teórico era um dos reflexos superestruturais de um tempo sombrio. Condições que só começaria a se alterar nos últimos anos do século passado. Referências BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido se desmancha no ar, Ed. Companhia das Letras. LUKÁCS, Georg. Ela salto a la razón, Ed. Grijaldo MARX, K.; ENGELS, F. O Manifesto do Partido Comunista, NIETZSCHE, Os pensadores, volume I e II, Ed. Nova Cultural. * AUGUSTO CÉSAR BUONICORE é historiador; mestre em ciência política pela Unicamp; secretário-geral da Fundação Maurício Grabóis; membro do conselho editorial das revistas Princípios e Crítica Marxista e do Comitê Central do PCdoB.
Estudo revela características culturais do Tea Party
ResponderExcluirAutoritarismo, liberalismo, medo de mudanças e rejeição à imigração. Segundo um estudo de sociologia divulgado nesta segunda-feira (22/08), essas são apenas as quatro características principais dos simpatizantes do movimento conservador norte-americano Tea Party.
A pesquisa, apresentada na reunião anual da Associação Americana de Sociologia realizada em Las Vegas, no estado de Nevada, indica que o Tea Party pode ser considerado uma expressão cultural do conservadorismo do final do século XX.
Assim resumiu o professor associado de sociologia na Universidade da Carolina do Norte, Andrew Perrin, autor do estudo "Cultures of the Tea Party".
As conclusões se baseiam em duas pesquisas feitas por telefone realizadas com mais de quatro mil eleitores registrados na Carolina do Norte e Tennessee, dois estados conservadores nos quais 46% dos consultados se mostraram a favor do Tea Party.
As entrevistas foram feitas entre 30 de maio e 3 de junho e entre 29 de setembro e 3 outubro de 2010, antes das eleições legislativas que aconteceram em novembro. Além disso, um conjunto de entrevistas foi realizado durante a manifestação que o grupo conservador realizou no mesmo ano em Washington.
Entre outras características, os pesquisadores descobriram que 81% dos entrevistados favoráveis ao Tea Party consideraram, em relação às crianças, o valor da obediência é mais importante do que a criatividade. E a autoridade é um valor fundamental. Entre os não simpatizantes, 65% concordaram com essas visões.
O medo da mudança foi outra das características manifestadas pelos entrevistados simpáticos ao movimento conservador, assim como as respostas negativas sobre os imigrantes e a imigração.
Entre os consultados, 51% dos que manifestaram estar "muito preocupados" com as mudanças na sociedade norte-americana eram simpatizantes do movimento, contra 21% dos demais.
O autor do estudo explicou que o Tea Party foi descrito como uma rebelião da parte mais conservadora do país e inclusive como um grupo racista contra o presidente, Barack Obama, entre outros qualificativos, que levaram o grupo de pesquisadores a analisar as bases culturais do movimento.
Assim, o estudo apontou que o Tea Party conseguiu juntar diferentes correntes conservadoras apelando a aspectos culturais tirados da história e do uso "teatral" da linguagem e algumas imagens.
Com apenas um ano de vida, o Tea Party, ala ultraconservadora da direita americana, aproveitou um momento em baixa do presidente Barack Obama para alcançar uma parte da população que só precisava de um empurrão para se rebelar e ganhou nas primárias. Com isso, subiu no salto alto. A vitoriosa Christine O'Donnell, que nesta quarta-feira desbancou colegas partidários experientes, como Mike Castle, deu o recado em nome dos radicais em seu discurso de vitória: “Aceito, mas não preciso”. Ela se referia a ter o apoio dos grandes nomes republicanos. O recado foi forte, mas revela a relevância desse gurpo no cenário político atual do país. Afinal, de onde vêm, quem são e para onde vão esses conservadores?
ResponderExcluirO movimento Tea Party foi criado em fevereiro do ano passado. Com ajuda das redes sociais, teve um resultado quase imediato – alcançou pessoas simples, que não entendem muito de política, mas não se sentem representadas pelo governo, não gostam de como as coisas estão se saindo e só precisavam ser encorajadas. O chamado decisivo veio em fevereiro de 2009, quando o apresentador de televisão Rick Santelli, da rede CNBC, falou exatamente o que esse público queria ouvir. Durante seu programa, Santelli disse: "Esta é a América! Quantos de vocês estão dispostos a pagar a hipoteca do vizinho que tem um banheiro extra e agora não pode pagar as contas?". Ele sugeriu, então, que fizessem um “Chicago Tea Party”. A ideia unia a cidade onde Obama morava e o episódio da história americana, conhecido como Tea Party, que batizou movimento.
O discurso inflamado do apresentador virou hit no Youtube, chegou ao Twitter, ao Facebook, à ala radical do partido Republicano e o movimento nasceu. Em algumas semanas, protestos intitulados Tea Party surgiram pelo país. Em 15 de abril de 2009, os militantes fizeram manifestações em 750 cidades aproveitando o Tax Day, Dia do Imposto - último dia em que os contribuintes podem declarar seus bens para o cálculo do Imposto de Renda. Na ocasião, em frente à Casa Branca, manifestantes jogaram caixas de chá pelo portão.
Em 12 de setembro, uma multidão de 100.000 pessoas foi mobilizada em uma marcha em Washington, considerada o maior protesto contra Obama até agora. “O Tea Party não representa a opinião do partido, nem da opinião pública, que é muito mais ampla do que isso”, disse ao site de VEJA o cientista político da Universidade de Columbia, Robert Erikson. “Geralmente, fenômenos como esse acontecem em uma situação de fraqueza do opositor, como é o caso de Obama agora. Mas esses movimentos não duram muito, são abafados no partido e não passam das primárias. Eles não representam o que pensa a sociedade americana.”
História - Em 16 de dezembro de 1773, um grupo de colonos americanos, ainda sob o comando da coroa inglesa, se revoltou contra as altas taxas de impostos cobradas pelos colonizadores sobre a comercialização do chá inglês. Vestidos de índios, invadiram os navios carregados de chá e jogaram toda a mercadoria no mar. O dia ficou conhecido como “Festa do Chá”, Tea Party. Três anos depois, as 13 colônias seriam declaradas independentes e formariam os Estados Unidos da América.